Sem verdadeira, positiva e treinada concentração mental, não há karateca
válido, como atrás dissemos. Sem o espírito, a eficácia da técnica
arrisca-se a severas e decepcionastes desilusões.
O que é afinal a
concentração em karaté? Aqui abordo um outro factor importante: o
domínio pessoal, o chamado autodomínio. Ora um karateca deve, em todas
as circunstâncias, ficar calmo, tranquilo, sem qualquer atitude ou gesto
ou contracção visível que deixe adivinhar as suas intenções. Esse tipo
de concentração deve e pode ser usado no treino do "dojo", e na vida
quotidiana. Lembramos a máxima: aquele que está bem preparado, não o
parece.
Esta é a atitude do karateca. A tensão é dissimulada numa
concentração disponível, sem a mínima excitação que deforme a realidade e
impeça a percepção exacta, instintiva, do acontecimento que se produza.
Por outro lado parece um paradoxo entrar em acção com a energia
explosiva do Karaté e manter o espírito lúcido e o sangue frio.
Como
conseguir essa maravilhosa indiferença frente a situação desesperada?
Como conseguir esse vazio de espírito, esse desprendimento aparente,
quando toda a energia física é desencadeada? A resposta só a podem os
iniciados encontrar através da prática real do Karaté.
A concentração
está em contradição aparente com a disponibilidade de espírito uma vez
que, frente ao adversário, o karateca não deve fixar nenhum ponto
preciso para assim se aperceber e registar imediata e intuitivamente a
menor abertura na sua defesa.
É certo que a maioria dos mestres e
instrutores são unanimes em aconselhar a concentração nos olhos do
adversário para assim aperceber as suas intenções, mas o verdadeiro
sistema, o ideal, é a concentração do olhar ao nível do meio dos olhos,
conservando o olhar vago ou tentando olhar através do rosto, mas sem
fixar as pupilas do oponente. Este método permite "sentir" o adversário
da cabeça aos pês.