O Kiai pode ser sonoro ou silencioso e é um estado psicológico, mais do
que um simples berro gutural. Ele é a expressão violenta duma tensão
mental e física que atingiu o paroxismo, o apogeu. Esse grito é o
símbolo da explosão da dinâmica física e facilita a concentração total
na ação.
O Kiai deve sair das profundezas dos abdominais e não
unicamente das cordas vocais. O que a maioria dos iniciados, e mesmo
certos cintos avançados, fazem julgando ser o Kiai é na maioria das
vezes um simples grito prolongado que é mais ridículo do que inibidor do
espírito adverso.
O verdadeiro Kiai é usado com parcimónia e só nos
momentos exactos da acção total. Todavia é tão perigoso usá-lo
descuidadosamente como prescindir dele, principalmente nos Katas Heians e
Tekkis. O Karaté é a procura da sensação e não da beleza e perfeição do
gesto.
O próprio Kiai deve ser executado em sensação e não
mecanicamente, como meio de marcação do exercício executado. A um nível
mais avançado não é raro ver-se a paralisação do ataque oponente através
do Kiai. Certos mestres e instrutores conseguem mesmo o desmaio do
adversário, por meio do Kiai. O Kiai é pois um meio de inibição e ao
mesmo tempo usado como reanimação por meio da aplicação da técnica do
Kuatsu, (técnica de recuperação e reanimação de desmaio provocado por
pancadas, luxações e projecções, etc.).
Para chegar ao estado
psicológico necessário à explosão do Kiai é pois necessária não só uma
execução intensa das técnicas, em potência, mas também uma
disponibilidade de espírito e contracção ventral que permita a explosão
imediata da energia acumulada num instante preciso. Procurar, sobretudo,
que o som provenha da parte baixa da região abdominal.